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Como engajar o paciente por meio de informações financeiras?

Por:

Julia Lins

- 31/05/2021

o paciente

Os médicos às vezes ficam focados em como os pacientes são tratados em suas clínicas e na qualidade do atendimento que recebem, mas muitas vezes acabam negligenciando um dos maiores fatores de engajamento: as finanças do paciente.

Embora os médicos não percebam, os pacientes veem o pagamento de seus tratamentos como parte da experiência clínica e por isso se preocupam com os custos gerados. Pesquisas recentes apontam que apenas 12% dos pacientes entrevistados disseram ter recebido informações sobre os custos diretos de seus tratamentos, enquanto 67% disseram que não discutiram a conta final com o hospital ou provedor.

Por isso, está se tornando cada vez mais evidente que os médicos entendam a importância de não negligenciar as questões financeiras para aumentar a satisfação do paciente.

Como o aspecto financeiro do paciente impacta na adesão ao tratamento?

Sabemos que há muitas barreiras para as discussões financeiras: níveis variados de educação financeira e de saúde, informações complexas pouco claras, barreiras sociais ou estigmas.

Porém, para o neurocirurgião e educador financeiro, Francinaldo Gomes, apesar do potencial desconforto, é fundamental discutir os aspectos financeiros do atendimento. “É muito importante que o médico, ao estar se relacionando com o seu paciente, tenha uma noção de sua situação financeira, para que ele possa adequar, não necessariamente a qualidade do tratamento, mas o custo do tratamento de acordo com a condição financeira do paciente”, explica.

Segundo o neurocirurgião, é importante falar abertamente sobre os custos do tratamento com o paciente para deixá-lo livre para escolher o que ele quer. “Eu já tive pacientes, por exemplo, com poucas condições financeiras, mas que por entenderem a necessidade real daquele tratamento, eles organizaram eventos como bingos, festas, rifas, conseguiram doações em algumas instituições de caridade, para custear o tratamento”, esclarece.

Porém, apesar de alguns pacientes terem condições para custear seu tratamento, é preciso entender que há pacientes que não tem como arcar com esses custos e acabam procurando outras formas de se tratarem.

Por isso, é importante conhecer a situação financeira do paciente e tentar adequar, claro, sem que afete o tratamento em si, ao orçamento que o paciente possa custear.

Mas como iniciar esta conversa?

Para Francinaldo essa conversa faz parte da relação médico-paciente, então o médico precisa ficar atento a alguns dados que já chamam a atenção para a condição financeira do paciente. “Por exemplo, se o paciente tem nível superior, se ele tem pós-graduação, qual é a profissão dele etc. Essas informações já dão uma ideia de como pode ser a situação financeira daquele paciente”, exemplifica.

Além disso, há médicos que preferem que a secretária seja a responsável por informar os valores do tratamento para os pacientes, porém, o ideal é que o próprio médico fique encarregado desta função. “Uma vez que se criou uma relação de confiança entre o médico e o paciente, é importante que o próprio médico que foi quem atendeu, examinou e diagnosticou dê essa informação”, reforça o neurocirurgião.

Francinaldo também afirma que outra tática durante essa conversa é mostrar para o paciente a importância do procedimento, em termos de qualidade e as possibilidades que aquele tratamento vai trazer para ele em termos de função e recuperação. Isso pode ajudar na adesão ao tratamento, independentemente dos custos.

Ferramentas para auxiliar o paciente com os custos

Depois de entender a situação financeira de seu paciente, o médico pode procurar formas de reduzir os gastos com alguns aspectos acerca do tratamento, tais como:

  • Tempo de internação hospitalar
  • Custo de materiais, como órteses e próteses
  • Custo com exames diagnósticos
  • Desconto para consultas de retorno
  • Oferecer opções de parcelamento com cartão de crédito e pagamento via depósito bancário

Porém, nem todos os gastos estão ao alcance do médico. Alguns dos gastos listados acima, por exemplo, não são de responsabilidade direta do profissional, mas para tentar encontrar o melhor custo-benefício para o paciente, Francinaldo recomenda que os médicos solicitem orçamento em pelo menos três instituições (hospitais) diferentes para que o paciente possa comparar a parte de custo hospitalar e a parte de OPME (órteses, próteses e materiais especiais).

Além disso, outra dica é ter o costume de perguntar a seus pacientes se eles possuem plano de saúde, pois mesmo que o médico só atenda pacientes particulares, se ele tiver, o plano pode custear toda a parte hospitalar, a parte de OPME e exames complementares. Nesses casos, o paciente custearia apenas os honorários médicos.

Essas são algumas medidas que podem ser adotadas. Entretanto, não há uma regra que sirva para todos os médicos, e tudo depende da relação criada com seu paciente, do quanto de valor ele vê no seu trabalho, e do quanto você trabalha para aumentar o seu valor no mercado de trabalho.

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