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Artigo especial: o otorrino e a pandemia

Por:

Eduardo Baptistella

- 03/03/2021

otorrino e a pandemia

Desde 2016, o dia 3 de março foi instituído como o Dia do Otorrinolaringologista. Se para muitos somos membros de uma especialidade cujo nome é difícil falar, soletrar ou escrever, para a sociedade trazemos a resposta quando o assunto é a prevenção e o tratamento das doenças do ouvido, nariz e seios paranasais, faringe, laringe, cabeça e pescoço. Também trabalhamos com aquelas condições que afetam os sentidos, tais como distúrbios auditivos, problemas de equilíbrio, olfato e paladar.

Seguir em uma especialidade tão dinâmica exige constante aprimoramento e uma boa dose de entusiasmo. Requer dedicação e, acima de tudo, coragem. Sim, porque em tempos de Covid-19, somos cada vez mais solicitados para o entendimento de alguns dos sintomas da doença, principalmente quando falamos das perdas do olfato e do paladar e das dores de garganta, por exemplo.

A pandemia vitimou vários colegas e seria injusto citar um ou outro nome, uma vez que todos tinham a sua importância não só como profissionais da Saúde, mas, acima de tudo, enquanto cidadãos e entes queridos para as suas famílias, que choram a dor de cada perda. Ante um cenário caótico, deixamos os receios de lado e continuamos firmes, não só em função do juramento que fizemos, mas também pelo dever moral que nos move. Afinal, todas as vidas importam.

Ser otorrino em um cenário pandêmico requer quase que uma habilidade de arqueologista. Afinal, somos nós que estamos à caça de um importante tesouro: o olfato perdido com a contaminação pelo vírus. Para que se tenha uma dimensão do desafio, um estudo publicado no Journal of Internal Medicine recentemente apontou, entre outros aspectos, que nove em cada dez pacientes com casos leves perdem o olfato e o paladar, e que a cura da Covid-19 não é suficiente para recobrar os sentidos perdidos – cerca de 5% das pessoas seguiram com dificuldades para sentir cheiros e gostos, embora a grande maioria tenha recobrado tais habilidades em até seis meses.

Nesse contexto, o nosso papel enquanto especialistas tende a se destacar cada vez mais, já que, em alguns casos, é necessário que o paciente seja submetido a tratamentos específicos, como treinos, para que olfato e paladar voltem à normalidade, e tais tratamentos dependem da nossa atuação para o seu efetivo sucesso (vale destacar que deficiências nesses sentidos são perigosas, pois podem gerar problemas relacionados a não percepção de alimentos estragados, vazamentos de gás, entre outras atividades tão comuns em nosso dia a dia).

É fundamental termos o pleno entendimento da nossa missão e, tão importante quanto, estarmos dispostos a lutar pelo melhor para os nossos pacientes. Precisamos, apenas, que as habilidades inerentes a nós e a nossa especialidade sejam devidamente respeitadas e preservadas. Queremos o reconhecimento da nossa importância e do nosso lugar no mundo. Por isso, nada mais justo do que celebrar o nosso dia, com o devido orgulho de ser otorrinolaringologista.