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O médico líder: conheça a neuroanatomia da liderança

Por:

Nayara Simões

- 23/01/2021

médico líder

Como funciona o cérebro de um líder? Esse é um questionamento que tem gerado muito interesse em pessoas de diversas áreas, inclusive nos médicos. É possível encontrar diversos conteúdos relacionados ao tema, mas, apesar da disponibilidade de informações, poucos especialistas conhecem a ação dos circuitos cerebrais relacionada à liderança e como o organismo reage a essa postura. Nesse contexto, a Neurociência surge como forma de compreensão para profissionais que buscam entender melhor a função e, assim, garantir o melhor desempenho desse papel.

A Neuroanatomia ajudou em constatações que provam que líderes que priorizam bons relacionamentos em sua equipe, por exemplo, são mais bem-sucedidos. Além disso, saber lidar com o gerenciamento de recursos, metas e expectativas dos pacientes é uma das características fundamentais na caminhada.

Nesse contexto, o neurologista Jaderson Costa da Costa, professor e diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer), explica que há dois sistemas: o da razão e o da emoção, que equilibram as decisões e as relações. O especialista acrescenta ainda que os circuitos envolvidos no estabelecimento de estratégias – funções executivas –, controle emocional e discernimento, por exemplo, envolvem a região frontal; já os aspectos emocionais são mediados pelo sistema límbico.

Dados internacionais

Para entender melhor esse cenário que abrange a liderança, a McKinsey & Company – empresa internacional de consultoria – realizou uma pesquisa com 189 mil pessoas de 81 organizações, para identificar os comportamentos mais frequentes de líderes bem-sucedidos. Ao analisar o estudo, concluiu-se que as características desses profissionais estão ligadas, principalmente, aos fatores:

  • Eficácia na resolução de problemas;
  • Ser orientado para a ação;
  • Análise das perspectivas do outro;
  • Dar suporte.

Em busca de resultados

Um líder está sempre em busca de resultados positivos. O médico Leonardo DeGasperi, pós-graduado em Excelência Operacional pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa – Albert Einstein, revela que foi motivado a se dedicar a temas como liderança, pelo fato de médicos serem vítimas de uma estruturação acadêmica arcaica. “Durante esse período fundamental para alicerçar uma projeção futura, não são abordados aspectos importantes para a formação de pessoas de alta performance, de líderes”, analisa.

Além disso, para o especialista, vive-se a era da liderança exponencial, em que todos os preceitos, até então aceitos, tornam-se obsoletos, e um movimento disruptivo exige atenção. “É necessário que haja, inicialmente, uma ressignificação da palavra ‘liderança’. Hoje, esse papel é muito abrangente e bater a meta se tornou apenas um dos pontos, é preciso inspirar”, afirma.

De acordo com DeGasperi, é essencial estabelecer um propósito comum. “É fundamental que toda a equipe entenda qual é o propósito maior envolvido nas pequenas tarefas da rotina. O líder precisa estabelecer valores institucionais que reúnam pessoas com ideias diferentes, mas com valores semelhantes”, orienta. Na sutileza da realização pessoal de cada membro da equipe, encontra-se a interseção entre a liderança e a Neurociência. “Um bom líder deve ativar gatilhos neurais, criar propósito e construir valores. A partir deles, seguir com seu time atrás de suas metas”, destaca.

Gestão de pessoas: a neuroanatomia dos liderados

DeGasperi fala que o principal desafio dos líderes é a gestão de pessoas. “É um desafio acompanhar as constantes mudanças que desenham nosso atual modelo de liderança”, destaca.

Nesse contexto, o médico garante que apenas com o desenvolvimento das habilidades certas é possível liderar times de alta performance e ter resultados nos consultórios, clínicas e hospitais. Um exemplo é quando alguém recebe um convite para uma reunião ou um feedback de trabalho. Nesse caso, quais áreas cerebrais são ativadas?

Ao pensar nisso, o urologista Rogério de Fraga, pesquisador sobre Neuroanatomia, explica sobre os sistemas de recompensa e punição dessas pessoas e como o ambiente age na neurotransmissão. “Alguns aspectos poderiam ser mais bem compreendidos e aplicados com o líder ciente das reações que ele causa no liderado”, afirma.

Fraga enfatiza que o indivíduo passa a ficar com todos os sistemas em alerta, o que aumenta a adrenalina e o cortisol do organismo. “A pessoa que recebe uma ordem sem contexto tende a ficar reativa. Dessa forma, tal cenário, em médio e longo prazos, pode gerar um estado de estresse, e o sistema neuronal de recompensa e punição passa a trabalhar de um modo com que a pessoa não queira estar nesse ambiente”, ressalta.

Já em um contexto de comunicação mais humanizada, o indivíduo tem uma reação diferente. “Nessa hora, o nível de recompensa traz o desejo de que o cenário se replique”, informa.

Além disso, o pesquisador destaca que um líder humanizado valoriza o trabalho dos liderados. “Ao falar da presença e do posicionamento, as pessoas esperam poder contar com o líder. Há uma relação de calma no sentido neurológico”, revela. Ele acrescenta, ainda, que é necessário estabelecer uma perspectiva em que as pessoas se sintam reconhecidas e, assim, criem conexões, que são caminhos preferenciais do impulso neurológico.

Neuroliderança e sua importância para o conhecimento médico

O mercado da saúde tem buscado grandes líderes para a execução de tarefas que gerem retorno. Dessa forma, entender melhor sobre o funcionamento desse processo e das próprias funções é de extrema importância para aperfeiçoar o desempenho e alavancar a carreira. Esse entendimento gera muitos benefícios e tem direcionado médicos rumo a um desempenho mais eficiente.

De acordo com Costa, a liderança é determinante para a motivação, o engajamento e a fidelidade da equipe assistencial, e a Neurociência contribui decisivamente para o entendimento do funcionamento do cérebro humano. “Apesar disso, devemos manter o olhar crítico e ter em mente que os achados da ciência empírica sempre serão ‘reducionistas’ ao isolarmos as variáveis e as perguntas a serem respondidas. Entretanto, não podemos ser ‘reducionistas’ na interpretação e acreditar que sempre representam o mundo real”, adverte.

Para o diretor, isso não pode afastar a busca incansável das evidências científicas, mas não deve ocorrer sua polarização como verdade absoluta. “Cada nova informação e nova resposta da ciência é mais uma peça que adicionamos ao quebra-cabeça do nosso entendimento”, enfatiza.

Já segundo DeGasperi, o conhecimento sobre neuroliderança é importante, pois a liderança médica efetiva é realizada por pessoas que conseguiram aplicar esses princípios em seu próprio crescimento, transferindo-os ao seu time e aos resultados das empresas. “O estilo de liderança é reflexo da pessoa que a exerce. Assim, um líder de alta performance é um médico de alta performance”, destaca.