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Sob Pressão: o que a série ensina para a carreira médica

Por:

Nayara Simões

- 06/12/2020

sob pressão

Sucesso como livro, filme e série, Sob Pressão conquistou seu lugar na teledramaturgia brasileira e alcançou um público cada vez maior a cada episódio veiculado. A obra, escrita inicialmente como um livro pelo cirurgião torácico Márcio Maranhão e adaptada para TV, surgiu por meio do sentimento de indignação perante a realidade angustiante enfrentada na emergência de um hospital público na baixada fluminense, no Rio de Janeiro. Sucesso inegável nas telas, Sob Pressão também traz grandes ensinamentos à carreira médica.

Na série, Drª. Carolina, representada pela atriz Marjorie Estiano, e Dr. Evandro, representado pelo ator Júlio Andrade, enfrentam as dificuldades e os conflitos da rotina em um ambiente hospitalar caótico. Em uma entrevista exclusiva com Márcio Maranhão – criador da obra e, atualmente, consultor em sua versão televisiva – ao Universo DOC, ele revelou que a criação das histórias busca, sobretudo, retratar as deficiências e a força do sistema público de saúde no intuito de sempre destacá-las.

Dessa maneira, de acordo com o profissional, há a promoção de reflexões e transformações. “Algumas vezes, os problemas apresentados são tão absurdos que a realidade rivaliza com a ficção. Tornar crível situações impensáveis é desafiador. Outro grande desafio é retratar, de forma justa, o tamanho e a importância dos diversos profissionais de saúde que compõem a força de trabalho do SUS”, expõe.

Principais ensinamentos

Maranhão destaca que a principal função da série é entreter, mas que ela também comunica a importância da saúde pública por meio de outra linguagem, por outras vias de percepção. “O SUS é fundamental na formação de jovens médicos que trabalham nos serviços hospitalares, na atenção primária, nas linhas de pesquisa, na produção de conhecimento. E, também, como pilar estruturante da sociedade brasileira”, acrescenta.

Segundo o médico, ocupar espaços nos cadernos de cultura dos veículos de comunicação com uma obra que aborda o SUS e seus problemas é um importante desdobramento e não deixa de ser um ensinamento. “Acredito no poder transformador da arte e na mudança de percepções. O comportamento da doutora Carolina e do doutor Evandro reflete o comprometimento que todo profissional de saúde e cidadão deveria ter com o SUS. Antes de sermos médicos e/ou pacientes, sejamos cidadãos brasileiros , cientes dos seus direitos e deveres”, destaca.

Além disso, ele afirma que o livro e a série têm impactado os profissionais da Saúde, pois tem recebido muitos convites para conversar com formandos de Medicina. “Eles se sentem motivados a trabalhar em emergências, com um brilho nos olhos que já tinha se perdido”, evidencia. O médico acrescenta que, nessas conversas, percebe uma indignação muito grande com as questões retratadas na série, mas muitos sentem-se tocados quando a dramaturgia gera reflexões muito importantes, esquecidas ao longo dos anos.

De acordo com Maranhão, é preciso resgatar questões que são do cidadão. “Defender o SUS é um ato de cidadania, e, como médicos e formandos, também temos uma função de transformação social e de educação”, afirma.

Sob Pressão e Covid-19

Recentemente, a série retratou o atual cenário vivenciado pela pandemia de Covid-19. Alguns episódios revelaram, por meio da teledramaturgia, os desafios enfrentados neste período. De acordo com Maranhão, esses episódios mostram aos profissionais da Saúde que todos estão no mesmo barco. “A manifestação da doença se dá individualmente, mas a proteção do outro se dá por ações coletivas. Quem banaliza a morte não valoriza a vida. É fundamental confiar na ciência e defender o direito à vida. Isso não é privilégio exclusivo dos profissionais de saúde. Saúde, educação e cidadania andam juntas”, alerta.

Críticas e elogios

Em sua entrevista, Marcio revelou já ter recebido críticas positivas e negativas sobre Sob Pressão. Segundo o médico, todas são bem-vindas e analisadas, pois são legítimas e contribuem para o aperfeiçoamento do trabalho e do poder de contribuição que a série pode ter na Saúde. Apesar de as críticas serem bem aceitas, Maranhão também deu sua opinião em relação ao assunto:

“Nós, médicos, devemos olhar a série como um esforço nosso de ter uma obra de entretenimento, mas com desdobramentos que nos dão muito orgulho. Quando temos repercussões tão positivas na Saúde, ficamos muito felizes. Precisamos entender que, para se contar uma história, necessitamos de licenças poéticas, e essas licenças propiciam uma reflexão para que seja possível tocar o público. A realidade já é tão dura, então vamos usar a licença poética a favor do assunto maior que é a saúde pública. É isso que nos motiva a trabalhar nessa obra”.

 

Para mais detalhes sobre a produção, acesse a entrevista em vídeo com Márcio Maranhão clicando aqui.