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Saúde e Tecnologia: Computação Cognitiva

Por:

Nayara Simões

- 10/01/2020

Os avanços tecnológicos abrangem, cada dia mais, a área da Saúde. O uso de ferramentas como inteligência artificial, beneficiadoras do trabalho médico, aumenta todos os dias e, por isso, os métodos tradicionais de atendimento, envolvendo papel e caneta, são considerados antiquados por alguns profissionais. É nesse contexto que surge a computação cognitiva.

O que antigamente seria enquadrado no âmbito da ficção se tornou realidade e, atualmente, tem alcançado diversos procedimentos médicos, proporcionando mais segurança ao paciente. Esses sistemas, quando relacionados à Saúde, têm colaborado com tratamentos oncológicos e de outras especialidades, com os exames de imagem, com os processos de aprovação de requisições médicas, que passam ser feitas mais rapidamente, e com estudos científicos.

Melhoria versus Resistência

Todos esses fatores e transformações tecnológicas afetam diretamente a relação entre o médico e o paciente, que passa a receber um atendimento melhor e personalizado. De acordo com Rogério de Oliveira Torres Homem, radiologista do Hospital da Força Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, as mudanças no cenário dessa relação já acontecem no Brasil. “Em um futuro breve, teremos, pelos grandes centros do país, como já acontece em São Paulo, a ajuda de robôs-cirurgiões e enfermeiras virtuais, que podem assistir o cliente, também em casa, depois que ele recebe alta”, explica o especialista.

De acordo com Torres Homem, algumas especialidades podem ser destacadas pelo efeito de precisão gerado por essa tecnologia. “Oncologia, Radiologia, Dermatologia, Oftalmologia, Pediatria, Pneumologia, Cirurgia Torácica, Cardiologia, Angiologia, Neurocirurgia, Medicina Nuclear e muitas outras áreas são envolvidas”, relata. O radiologista acrescenta que, em algumas instituições americanas, as cirurgias ortopédicas são autorizadas somente depois de analisadas por um poderoso sistema de inteligência artificial.

Torres Homem acredita que os benefícios gerados por essa evolução são muitos. “A computação cognitiva veio para facilitar e confrontar inúmeras variáveis de informações sobre o próprio paciente, com maior proficiência nos diagnósticos e tratamentos”, defende. Para o médico, embora seja um futuro próximo, esses sistemas enfrentarão a hesitação de alguns profissionais. “Apesar disso, os especialistas compreenderão essa mudança por meio do conhecimento prático e, depois, poderão mostrar aos pacientes a qualidade, a rapidez e a segurança que a tecnologia pode gerar, e a confiança de ambos os lados surgirá”, garante.

Robôs Cirurgiões
Robôs-Cirurgiões (Foto: Reprodução / Internet)

 

Quem também evidencia esse tipo de resistência, causada por receio ou medo das inovações, é Ubirajara Maia, diretor corporativo de Sistemas da MV, empresa especializada em tecnologia e gestão para a Saúde. “Os médicos precisam ter em mente que as atividades mecanizadas deixarão de ser utilizadas e essa mudança representa um benefício. Assim, é possível reservar mais tempo para o atendimento e para a tomada de decisão, sem preocupação com a parte repetitiva e burocrática”, ressalta.

“A computação cognitiva veio para facilitar e confrontar inúmeras variáveis de informações sobre o próprio paciente, com maior proficiência nos diagnósticos e tratamentos”

Ubirajara Maia, diretor corporativo de Sistemas da MV

 

A Era da Informação

Com as tecnologias que envolvem inteligência artificial, como a computação cognitiva, é possível cruzar a literatura médico-científica com os dados específicos do paciente no momento da consulta. De acordo com Mariana Perroni, conselheira médica da IBM Brasil, empresa especializada em tecnologia, o conhecimento e a quantidade de informação médica disponíveis no mundo, antigamente, dobravam a cada 50 anos. Hoje, isso leva cerca de dois anos e, a partir de 2020, a previsão é de que isso ocorra a cada dois meses e meio.

A médica conta também que, no ano passado, 1.331.736 artigos foram publicados no PubMed. “Há, inclusive, estudos que demonstram que, para se manter atualizado, um especialista teria que estudar mais de 20 horas por dia”, destaca. Para Mariana, da mesma forma que o trator ampliou a performance muscular, os sistemas de inteligência artificial vieram para aumentar a capacidade dos profissionais além das limitações humanas. “Pessoas inteligentes e sistemas inteligentes podem coexistir em simbiose, gerando resultados melhores do que os desfechos que seriam gerados se não tivessem se encontrado”, afirma.

Segundo ela, o cérebro humano está deixando de ser um hardware suficiente para processar toda essa informação gerada. “Em meio ao tsunami de conhecimento médico e dados de saúde que existem no mundo hoje (e que só tende a aumentar), boa vontade e trabalho duro começam a deixar de ser, sozinhos, suficientes para garantir um cuidado com eficiência e qualidade aos pacientes”, informa Mariana. Ela também evidencia o fato de o papel do médico estar sendo radicalmente redefinido e enfatiza que habilidades ainda não ensinadas na faculdade Medicina serão requeridas aos profissionais.

Realidade Digital - Prontuários Eletrônicos
Ubirajara Maia afirma que, por esse e outros fatores, o Brasil vivencia quase 400 mil erros médicos por ano e afirma que esse índice diminuiria com a utilização dos prontuários eletrônicos. (Foto: Reprodução / Internet)

Ao se basear nisso, a IBM criou, em 2015, a unidade Watson Health, com o objetivo de explorar o potencial da computação cognitiva na Saúde. Foram criadas duas ferramentas: o Watson for Oncology, solução capaz de ranquear planos de tratamento personalizados segundo dados clínicos dos pacientes no momento da consulta, e o Watson for Genomics, com foco na Medicina de Precisão e na Genômica. Em parceria com a Medtronic, empresa de tecnologia voltada para a Saúde, o Watson também identificou padrões que permitiram desenvolver um algoritmo que prevê um episódio de hipoglicemia três horas antes.

Mais do que obrigar estudantes a memorizarem o ciclo de Krebs e as artérias do polígono de Willis, há uma crítica necessidade de promover mais discussão sobre a impacto das novas tecnologias na profissão e trazer o currículo das faculdades para o século XXI”

Mariana Perroni, conselheira médica da IBM Brasil

Uma prática do século XXI

A aparição de técnicas como a computação cognitiva têm reestruturado o trabalho médico, mas ainda há muito o que transformar. Com a evolução e o aumento do uso de inteligência artificial, segundo Mariana, haverá uma quebra de paradigma que fará com que os dados sejam usados para tratar as pessoas de acordo com o que seria ideal para cada uma, e não mais com o que funciona para a “maioria”, como acontecia no passado e ainda ocorre em alguns casos.

A médica garante que, da mesma forma que o telefone não substituiu a voz humana, mas ampliou o alcance dela, a inteligência artificial aumentará o potencial cerebral das pessoas. “Mais do que obrigar estudantes a memorizarem o ciclo de Krebs e as artérias do polígono de Willis, há uma crítica necessidade de promover mais discussão sobre a impacto das novas tecnologias na profissão e trazer o currículo das faculdades para o século XXI”, defende.