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Inovação e tecnologia: os wearables impactando na vida do médico

Por:

Universo DOC

- 10/01/2020

A Medicina vive um período de constantes mudanças e os recursos tecnológicos atuam como grandes aliados na otimização da Saúde e na carreira médica, cumprindo um papel fundamental no trabalho dos médicos.

Entre as inovações, surgem os wearables dispositivos que podem ser facilmente acoplados ao corpo, como pulseiras, relógios, óculos e roupas. Eles são capazes de calcular batimentos cardíacos, peso, calorias consumidas, passos e até o tempo de atividade física. Ou seja, dados que até então eram medidos apenas em consultórios, agora, podem ser captados em tempo real.

Segundo relatório da IHS Technology, o mercado global de wearables crescerá em 2018, gerando uma receita de US$30 bilhões, um aumento de mais de 250% em relação aos US$8,5 bilhões em vendas em 2012. Muitos profissionais estão aderindo, hoje, a essa nova forma de monitoramento da saúde. Mas como isso impacta na relação médico-paciente?

O que são wearables?

Os wearables (ou dispositivos vestíveis) atuam na função de monitoramento remoto, proporcionando mais independência para o usuário.

Os dispositivos podem ser incorporados a qualquer acessório, usando inúmeros sensores, integrados em um sistema, que conecta e cruza as informações coletadas. A partir daí, os dados são armazenados em servidores para que, posteriormente, seja feita uma análise mais profunda.

Geralmente, esses dados ficam disponíveis para médicos e pacientes. Como é o caso da Miniclinic, um sistema que integra diversos aplicativos em uma única plataforma, permitindo a coleta, o gerenciamento e o compartilhamento de informações de maneira prática e segura.

De acordo com Alvaro Cattani, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e sócio da Miniclinic, com o uso correto dessas informações, é possível ter um controle mais adequado sobre os problemas de saúde do paciente. “Por exemplo, um wearable que faz medidas de pressão regularmente e transmite esse dado para o médico de forma semanal ou mensal sobre um paciente hipertenso. Com isso, podem ser feitos ajustes de tratamento quando necessário”, exemplifica.

Melhorando a relação médico-paciente

Segundo Guilherme Rabello, gerente comercial do núcleo de projetos InovaInCor, os dispositivos wearables têm muito a contribuir para a área médica, atuando como “cuidadores virtuais” e como aliados dos médicos. “Eles podem auxiliar os médicos no controle sobre a saúde do paciente, indicando alterações em suas condições físicas que os permitam agir de modo preventivo e até mesmo intervir em casos agudos, com melhora no desfecho do tratamento clínico”, pontua.

O nutrólogo Stêfani Teixeira também acredita que esses dispositivos sejam benéficos para o médico, encurtando o distanciamento entre ele e o paciente. “Graças ao avanço tecnológico, por meio das tecnologias vestíveis, é possível monitorar, por exemplo, os níveis de açúcar no sangue, o nível de dor, e a temperatura corporal, estando em qualquer lugar”, assegura.

Mas para que o dispositivo funcione de forma adequada, é necessária a adesão do paciente. Para Cattani, o feedback do paciente é o que determina a eficácia do monitoramento. “Temos no Miniclinic o monitoramento da pressão arterial e da glicemia, a oximetria e o acompanhamento do índice de coagulação.

Tenho pacientes que utilizam o controle de pressão arterial e me enviam semanalmente os dados de curva pressórica. Sempre faço uma interação com eles, comentando as medidas e discutindo potenciais necessidades de correção. Esses pacientes passam a ter um entendimento da doença, conhecem o comportamento de sua patologia, aceitam e, por vezes, até sugerem ajustes de doses ou mudanças no rumo do tratamento”, explica.

Conhecer o paciente, suas emoções e frustações também é uma das questões proporcionadas por esses dispositivos, contribuindo para um tratamento mais humanizado. “Penso que, quanto mais houver a incorporação de tecnologia pelo paciente, com interação ou interface com a utilizada pelo médico em seu trabalho, mais conhecimento o profissional terá sobre o paciente na sua individualidade, pois os dados fornecidos geram uma gama de informações”, ressalta Cattani.

Empoderamento do paciente no ambiente médico

Devido à popularização do acesso à internet, é possível encontrar facilmente informações relacionadas à saúde disponíveis na rede.

Com isso, surge um novo personagem no ambiente médico: o paciente expert. Ele é aquele que busca informações relacionadas a sintomas, doenças e tratamentos. Mais do que isso: por vezes, também acredita que entende da especialidade e está em pé de igualdade com o médico.

Segundo Rabello, o paciente expert está transformando a tradicional relação médico-paciente baseada na autoridade concentrada apenas nas mãos do médico. “Em vários sentidos, a relação médico-paciente está mudando desde o advento do ‘Dr. Google’.

O início do empoderamento dos pacientes com acesso à informação médica tem gerado efeitos positivos, como um diálogo melhor e a inclusão dos pacientes na discussão da sua própria saúde.

Porém, há desafios para ambas as partes. Pacientes podem gerar expectativas equivocadas sobre como seus médicos precisam avaliar os dados que seus wearables produzem, querendo avaliações rápidas”, afirma.

Para Teixeira, a conversa prévia com o paciente é uma boa forma de evitar esse tipo de situação. “Quando você usa um sistema de alta tecnologia aliado à saúde, é muito importante você sempre explicar bem as funcionalidades para o paciente e nunca perder a integração médico-paciente. O diálogo e a clareza são a melhor forma de prevenir os ‘pré-diagnósticos’ que existem através do Dr. Google”, orienta o médico.

Porém, apesar da facilidade trazida por esses dispositivos, essas informações precisam ser levadas a um médico para que ele recomende o tratamento mais indicado para cada indivíduo.

Segundo Immo Oliver, fundador da Carenet, empresa criadora do primeiro dispositivo vestível de saúde do mercado brasileiro, o Carenet Klip, os dispositivos auxiliam no controle da enfermidade.

Porém, apenas os médicos são responsáveis pelo diagnóstico da patologia. “O foco do monitoramento remoto não é necessariamente o diagnóstico. Ele serve mais para monitorar os pacientes crônicos, que já foram diagnosticados por um médico, e, então, realizar o acompanhamento durante uma crise, para que o paciente receba a ajuda no momento certo e de maneira correta”, defende.

Prós e contras dos wearables

Apesar das inúmeras vantagens possibilitadas pelo uso dos wearables, eles também podem apresentar fatores negativos. Em uma pesquisa recente, realizada pela empresa Harris Interactive com 2.500 pessoas nos Estados Unidos, quase três quartos dos entrevistados disseram ter pelo menos uma preocupação com esse tipo de aparelho, em geral, relacionada ao preço e à privacidade.

Segundo Rabello, até a segurança do paciente pode ser uma das desvantagens trazida pelas novas tecnologias. “Os usuários que não entenderem adequadamente para que servem os wearables podem desenvolver um falso senso de segurança física, tomando decisões erradas quanto à aderência a tratamentos e à medicação indicada pelo médico.

Quem cuidará dos dados? Estaremos no controle ou seremos controlados? Nossos dados serão usados a favor ou contra nós mesmos? Esses são dilemas que devem ser debatidos e estudados pelos pacientes”, pontua.

Oliver acredita que o segredo para o melhor aproveitamento desses recursos é saber equilibrar o uso das tecnologias com o aconselhamento médico. “No fim, todos querem ajudar o paciente a gerenciar melhor sua patologia. Então, quem faz a educação é o médico. O paciente recebe do profissional as instruções de como ele deveria se tratar e a tecnologia o ajuda a seguir essas regras definidas pelo médico. Vejo isso como uma ferramenta de autocuidado”, conclui.