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Ética na comunicação do médico

Por:

José Roberto Luchetti

- 10/01/2020

Uma palavra com apenas cinco le­tras, que está por todos os can­tos: ética. O Brasil vive um momento único. Chegamos ao fundo do poço e podemos, pela primeira vez, enterrar de vez o ‘jeitinho’ que sempre foi tão característico de nosso povo, mas que, disseminado em todos os setores e na sociedade, trouxe junto a corrupção generalizada e sistematizada. Serão novos ventos que trarão novos tem­pos? Só o futuro dirá.

O Médico e o Jornalista – afinal a im­prensa não é nenhum monstro uma pu­blicação da DOC Content, que tive o prazer de escrever, juntamente com o também jornalista Cacá Amadei, e que acaba de ser lançada – traz um capítulo inteiro dedicado à ética na comunica­ção. Mas como a comunicação é apenas o reflexo de atitudes conjuntas de uma empresa, clínica ou consultório, o capítulo é, na verdade, um ensaio sobre a própria vida.

Não é possível ser ético apenas ao comunicar. A ética tem que estar em todos os processos e a comunicação será apenas consequência. No capítulo mencionado, convidamos a psicóloga Deborah Bretas, que é uma estudiosa em Comunicação, para auxiliar em um entendimento mais amplo do tema. “A Ética é o exercício individual de refle­xão sobre os conteúdos morais codificados por uma certa sociedade, em um dado momento histórico. Ela pressu­põe a sustentação da vida em comuni­dade”, contextualizou Deborah.

A especialista ainda foi além: “em última instância, a Ética busca reconhecer quais aspectos de uma dada moralidade favorecem a sustentação do que chamamos a vida humana e os que a ameaçam. Reconhece a alteridade como base da vida social. O ‘Eu’ e ‘Outro’ e a sua interdependência. Podemos entender que o ser humano é basicamente dependente. Estabelece relações com o mundo além de sua individualidade. Precisa do ar, da água, do alimento e da influência do outro para edificar e sustentar aquilo que chamamos de vida humana. Nessa compreensão surge o sentido de alteridade. ‘Eu’ e o ‘Outro’. Emerge o campo

das relações, onde se estabelece a neces­sidade da reflexão ética. Daquilo que devo, posso e quero fazer e daquilo que não devo, não posso e não quero fazer. Comunicar com ética é praticar essa re­flexão todos os dias”.

A comunicação ética é consequência de todo um processo global e não um ato isolado. Caso contrário, será um discurso vazio, um ato forjado que, em algum momento, será desnudado. Um bom exemplo é o Ética Saúde – acor­do setorial de iniciativa da Associação Brasileira de Importadores e Distribui­dores de Implantes (Abraidi) e do Ins­tituto Ethos – que se tornou um divisor de águas, inicialmente no mercado de Dispositivos Médicos Implantáveis, e hoje é uma referência em todo o seg­mento da Saúde.

O Ética Saúde é o maior exemplo de que é possível fazer diferente e que é in­sustentável, nestes novos tempos, agir de forma diversa. Não é por acaso que até as pequenas empresas do setor de Saúde têm estruturado departamentos de compliance e vêm buscando as rela­ções éticas nos negócios.

A Ética não pode ser um discurso, caso contrário cairá como um castelo de cartas. Não faltam exemplos para olhar­mos em todos os setores da sociedade que se apropriaram do discurso ético, mas, na prática, agiam ou ainda agem na escuridão.

Como escreveu o filósofo alemão Immanuel Kant: “Tudo o que não puder contar como o fez, não faça!”. É evidente que o filósofo não está fa­lando contra a privacidade, mas em relação a algo que, ao ser feito, causará vergonha, que é antiético. Ético é ser ético. Cinco letras apenas, mas que fa­zem todo o sentido nas atitudes e não somente nas palavras.

Voltando ao artigo que encerra o livro O Médico e o Jornalista cito Bob Marley, que, de forma conclusiva, um dia afir­mou: “São as atitudes e não as circuns­tâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo o respei­to, é apenas o que você diz”.