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Especialização em Gestão de Saúde: O que você precisa saber

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Universo DOC

- 10/01/2020

A prática da gestão tem se tornado uma habilidade muito importante na área médica. Hoje em dia, não faltam matérias, livros e cursos que visam auxiliar o médico nesse ramo. A relevância do tema vem da grande procura dos profissionais da saúde em se especializar em algo que não é ensinado nas disciplinas oferecidas durante a faculdade.

Devido à falta dessa experiência durante a formação, muitos médicos procuram cursos que os ensinem a como se preparar para gerirem hospitais, clínicas e até mesmo consultórios. E isso também vale para os médicos que já estão familiarizados com o trabalho de gestor por terem aprendido durante a prática da profissão, mas que buscam aprimorar seus conhecimentos para se tornar profissionais ainda mais capacitados a ocuparem posições de liderança.

Para falar sobre o assunto, o DOC Academy convidou duas coordenadoras de cursos distintos sobre Gestão e Saúde para dar seus depoimentos sobre o tema, abordando as formas de aplicação, o perfil dos profissionais e os principais tópicos em discussão atualmente. Além da opinião das coordenadoras, a reportagem também conta com os relatos de um médico, que participou de um desses programas, trazendo suas impressões, bem como a experiência que adquiriu ao longo do processo.

Especialização em gestão: uma necessidade atual

Tania Furtado, coordenadora MBA Executivo em Gestão de Saúde da FGV
Tania Furtado: necessidade de profissionalização dos cargos executivos para gestores da área da Saúde

Segundo a coordenadora do MBA Executivo em Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Tania Furtado, foi pensando na necessidade de profissionalização dos cargos executivos para gestores da área da Saúde que o curso surgiu, há 20 anos. “Era fundamental suprir essa lacuna significativa e nortear o mercado de desenvolvimento das lideranças empresariais para gerenciar a Saúde”, ratifica.

Para se ter uma ideia da procura por esse campo de especialização, o programa já possui 36 turmas só na cidade do Rio de Janeiro. Em todo o território nacional – incluindo as grandes capitais – e no exterior, o curso é responsável pela formação de mais de 5 mil alunos.  De acordo com Tania, o curso da FGV tem uma abordagem multiprofissional, indicada a todos os profissionais envolvidos com os sistemas e políticas de Saúde, voltado à gestão de grandes hospitais, clínicas, laboratórios, operadoras e seguradoras de saúde e consultórios. Médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, odontólogos e educadores físicos são os exemplos de profissionais que se beneficiam do programa. Chama a atenção a procura do curso também por advogados, engenheiros, físicos, economistas e administradores. “Nosso programa conduz a pesquisa sistematizada sobre a formação e desenvolvimento da liderança executiva em Saúde, destinado a pessoas e equipes de alto desempenho”, afirma.

A coordenadora ainda comenta que o perfil dos participantes é variado: “Há profissionais com mais de 60 anos – em migração de ambiente de trabalho e em transição de hierarquia na organização e suas direções –, até jovens recém-formados, na faixa de 23 anos, orientados a novos nichos de mercado e campo de trabalho em expansão”, revela.

Outro exemplo de curso voltado para essa área é o da UNA-SUS/UFMA, resultado da adesão do projeto do Ministério da Saúde – a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) –, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O curso oferecido é focado em gestão pública de saúde e foi pensando de forma multiprofissional, ou seja, é benéfico para qualquer profissional atuante do campo de gestão em saúde. Para a coordenadora de produção da UNA-SUS/UFMA, Paola Trindade, o primeiro cenário percebido foi a falta de uma formação de gestão, em específico aquela voltada para a saúde. “Essa área, muitas vezes, não é abordada durante a formação de um médico. Ele, então, vê-se em uma atividade de gestor, mas não tem uma preparação mais aprofundada para isso”, justifica.

Para preencher essa lacuna, a coordenadora diz que a UNA-SUS da UFMA vem lançando novos cursos desde o começo do ano: “Fizemos um planejamento pedagógico de forma a trabalhar com cinco programas – primeiramente, sobre princípios iniciais do SUS e, conforme os cursos forem lançados, vamos aprofundar as questões para abordar temas de responsabilidade fiscal, dando os subsídios teóricos necessários para os profissionais inscritos”, conta.

E para os médicos que gostariam de saber se os ensinamentos do curso podem ser usados em clínicas e consultórios particulares, a coordenadora afirma que é possível. “O profissional, pode, sim, aplicar os conhecimentos do curso em sua clínica ou consultório. Porque, além das ferramentas que já temos selecionadas do SUS, existem instrumentos de monitoramento e de avaliação, e isso pode ser trazido para a atividade de um setor privado suplementar. Isso pode ser aplicado de forma completamente adequada, porque é embasado nas ferramentas de administração e gestão. O médico aprende ferramentas que podem subsidiar a gestão em saúde de outros espaços. Ao fazer o curso, o profissional ganha uma compreensão melhor da complexidade dos processos sociais que perpassam a gestão em saúde, bem como das ferramentas e instrumentos para que se faça diagnósticos das conjunturas de saúde, e como sugerir intervenções a partir desse diagnóstico”, pontua.

Paola também ressalta que os cursos são independentes e, mesmo para quem já tem uma prática profissional robusta e não quiser ver conceitos introdutórios, é possível se direcionar para recursos como um e-book, com assuntos mais específicos.

Opinião de quem já fez

Para o professor de Nefrologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e aluno do curso da UNA-SUS/UFMA José Alberto Pedroso, o UNA-SUS é uma ideia que está dando certo, pois traz para perto do profissional de saúde do SUS cursos de capacitação e de qualificação profissional com reconhecimento acadêmico. “A UNA-SUS promove, coordena e disponibiliza uma plataforma on-line, que vem permitindo que a educação à distância em saúde pública seja uma realidade no Brasil. O conteúdo didático é apresentado sob a chancela de professores de renomadas universidades e instituições públicas de ensino. Os cursos possuem avaliação on-line e certificado, comprovando a carga horária do curso. E a plataforma também oferece verificação digital da veracidade do certificado”, comenta.

Para o professor, a importância da atualização dos médicos em gestão é fundamental, pois, além da sua função assistencial, eles frequentemente exercem funções de liderança junto a equipes de saúde: “Diferentemente de outros cursos de graduação, como a Enfermagem, o currículo da Medicina não costuma incluir disciplinas que preparem este médico para ser um gestor, para exercer papéis de coordenação, à frente de equipes multidisciplinares. Muitas vezes, sua participação como gestor em serviços públicos ou privados de saúde ocorre por aptidões naturais ou por força das circunstâncias”, diz. Ele aconselha que os médicos se envolvam mais, ou ao menos conheçam como se faz gestão em saúde: “Quando se encara o papel de gestor de uma maneira profissional, contar com uma formação autodidata até pode ser suficiente, mas muitas vezes possuir uma educação formal em gestão encurta o caminho para atingir os objetivos e maximizar os resultados”.

Por fim, o nefrologista ainda fala sobre os benefícios proporcionados pelo programa que ele adquiriu para sua carreira. “O curso reforçou conhecimentos adquiridos ao longo da experiência prática no serviço público e privado. Gerenciar significa mediar conflitos, lidar com pessoas de diferentes profissões e graus de instrução e fazer com que elas se motivem, que abracem a sua ideia e gerem resultados. Fiz o curso de gestão porque trabalhei muitos anos em Porto Alegre, em funções gerenciais do SUS Municipal. Pedroso foi gerente distrital de Saúde, coordenador de equipe de clínica médica, diretor técnico de hospital público e, por último, coordenador médico de emergência – função que recentemente deixou para assumir carreira acadêmica na UFRJ. “Gestão requer conhecimentos e habilidades transversais, requer planejamento, articulação, conhecimentos de política de saúde, Economia, Sociologia e, também, Psicologia para liderar colegas e mediar conflitos. Esse curso foi uma forma interessante de me atualizar sobre o tema”, encerra.

Texto por Andre Klojda e Luan Sicchierolli