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Artigo: A ciência da compaixão na prática

Por:

Rafael Reinehr

- 10/01/2020

Passam-se os anos, avança a ciência, surgem novas e impressionantes tecnologias e ainda não aprendemos a lidar uns com os outros de forma a criar um contexto de vida em sociedade mais harmônico, saudável e feliz.

Jazaieri et al. publicaram um estudo1 que nos incita a pensar em como podemos nos aproximar desse ideal filosoficamente buscado desde nossas origens. Estudando a compaixão, um sentimento emocional positivo valorizado por diferentes tradições religiosas, como o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e o Budismo, os autores descobriram que um programa de treinamento de nove semanas para o cultivo da compaixão é capaz de melhorar significativamente os três domínios da compaixão: compaixão pelos outros, ser capaz de receber compaixão de outros e autocompaixão.

Além disso, a quantidade de meditação formal praticada durante as nove semanas foi positivamente associada a níveis mais altos de compaixão por outras pessoas. Assim, chegaram à conclusão de que os domínios específicos da compaixão podem ser intencionalmente cultivados em um programa de treinamento, capaz de melhorar a saúde mental e o bem-estar das pessoas às quais esse treinamento for aplicado.

Estudos recentes têm sugerido que a compaixão, além de ser uma preditora de saúde psicológica e bem-estar, também foi associada à redução do afeto negativo e das respostas de estresse, bem como um aumento dos afetos positivos, da conectividade social e da bondade em relação a si mesmo e a outros.

Mais especificamente, esses estudos avaliaram variados métodos de treinamento da compaixão, tendo encontrado benefícios específicos, como: redução da vergonha e da autocrítica e dos sentimentos de inferioridade; redução dos níveis de interleucina-6 e cortisol; aumento de índices, como felicidade, capacidade em lidar com problemas, qualidade de sono e redução dos níveis de estresse e ansiedade.

Acima de tudo, o estudo lembra que a compaixão dá origem a um comportamento altruísta e generoso, além de uma poderosa motivação que, por definição, é focada nos outros, resultando em uma conectividade social maior. Esta, por sua vez, associada aos efeitos pró-sociais benéficos que a compaixão traz, promove um poderoso antídoto às desagregações familiar, tribal e social pelas quais passamos.

Talvez devêssemos pensar em incluir, em nossas escolas, orações matinais, salas de cafezinho, ginásticas laborais e tantos outros espaços e rituais com funções individuais e sociais específicas, com treinamentos pró-compaixão e momentos que favoreçam a meditação e uma conexão maior com os outros e conosco mesmos. Quem sabe, assim, descubramos que cada um de nós é o que é pelo que nós somos, coletivamente. Desmoronada a ilusão do ego, eis que surge espaço para a verdadeira paz e felicidade.

1 Jazaieri H et al. Enhancing Compassion: A Randomized Controlled Trial of a Compassion Cultivation Training Program. Journal of Happiness Studies. 25 maio 2012.