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Plano de negócios: o que é preciso para elaborar um?

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- 31/10/2017

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Abrir e manter o próprio consultório é o sonho de muitos médicos. Na ânsia de tornar o desejo realidade, alguns se lançam no mercado, mas sem qualquer planejamento. John L. Beckley, professor norte-americano de Marketing, já dizia: “A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não planejar”. A afirmação, infelizmente, traduz o que acontece com frequência.

Para diminuir as chances de insucesso de um empreendimento, faz-se necessário adotar algumas etapas prévias, sendo a principal delas a elaboração do plano de negócios, documento escrito que descreve os objetivos do negócio e norteia as medidas que serão adotadas para que o empreendedor atinja seus propósitos. Por meio desse instrumento, o médico adquire mais conhecimento e segurança em relação ao que pretende fazer.

Importante ferramenta de gestão empresarial, o plano de negócios orienta o planejamento e a efetiva operacionalização do negócio, contribuindo para que se concretize da melhor maneira possível. O documento deve conter, portanto, questões estratégicas à implantação da empresa, como visão, objetivo, pesquisa de mercado, avaliação da concorrência e análise financeira, entre outras.

De acordo com o oftalmologista e CEO do portal iMedicina e do Consultório 2.0, Raphael Trotta, estima-se que mais da metade dos empreendimentos de saúde fechem as portas antes do quinto ano de operação, e grande parte desses encerramentos poderiam ser evitados com um bom plano de negócios, que resultaria em decisões menos emocionais e mais estratégicas. “O plano de negócios tem um papel fundamental para qualquer profissional de saúde que deseje montar um empreendimento. Sabemos que a formação universitária não contempla esse tipo de assunto e, de certa forma, a criação de um plano de negócios obriga o médico a se inteirar dos pontos mínimos de planejamento para o consultório ou clínica”, afirma.

A má elaboração do plano de negócios pode colocar tudo a perder. Segundo Trotta, normalmente, os principais geradores de problemas estão na real necessidade que o mercado possui dos serviços que estão sendo oferecidos, falta de diferenciação competitiva, subestimação da concorrência e estrutura de custos. “Uma boa abordagem desses pontos, antes de dar início ao empreendimento, ajuda a minimizar as causas de insucesso”, declara.

Como elaborar?

Preparar um plano de negócio não é uma tarefa simples, ainda mais para quem não tem experiência no assunto. Mesmo assim, é importante frisar que ele deve ser feito pelo próprio empreendedor, baseado nas informações que ele próprio apurou e em suas intenções para o negócio. “Não é necessário nada muito elaborado. Costumo indicar a escrita de, pelo menos, uma página para cada item. Dessa forma, o empreendedor se obriga a explorar cada um dos pontos críticos para que o negócio deslanche”, explica.

Embora importante, a elaboração do plano de negócios ainda encontra barreiras. Para Trotta, o médico empreendedor tem como maior desafio conciliar a gestão da operação com as atividades técnicas. Por isso, é difícil colocar em prática e viver, de fato, o plano de negócios no dia a dia. “Gerenciar um empreendimento é tão importante quanto atender direito o paciente. Dessa forma, é inviável pensar um consultório que mantém 90% do foco em atendimento e apenas 10% para a gestão, como vemos na prática. Um negócio de sucesso deve ser gerido diariamente, passando por processos adequados e gestão estratégica. O plano de negócios, então, vem para ampliar a visão do profissional sobre as atividades que são necessárias para o sucesso do empreendimento, seja facilitando a percepção de problemas simples até grandes desvios de rota”, argumenta.

Documento não deve ser estático

Além de ser utilizado para entender a viabilidade de abertura do negócio, o plano também deve ser encarado como ferramenta de monitoramento e possíveis ajustes, de acordo com o que se espera do empreendimento. “É um guia para que o profissional avalie seu desempenho e, eventualmente, analise as mudanças ocorridas no mercado, adaptando-se às necessidades daquele momento”, define Joatam Leite da Silva Júnior, cirurgião com MBAs em Gestão Empresarial e em Finanças e Controladoria.

Com formação internacional, e atuando em diversos cargos de gestão, o especialista considera necessário redesenhar o plano de negócios de tempo em tempo. “O ideal é refazê-lo quinzenalmente, mas, se não for possível, no mínimo, a cada mês. Desse modo, pode-se verificar se o que foi definido no início está sendo alcançado e, em caso negativo, são possíveis ajustes rápidos e correções necessárias”, aponta.

Deixar de fazer acertos no plano de negócios pode trazer consequências graves para o negócio, como o processo de falência. Por isso, é importante fazer uma reavaliação mais crítica e estar atento às novidades que possam surgir no decorrer do caminho. Nessa perspectiva, Silva Júnior alerta para o modelo de remuneração a ser adotado pelas operadoras de saúde em um futuro próximo.

“Os médicos já devem incluir essa questão no plano de negócios sem se prenderem à forma de pagamento atual – fee for service –, ou seja, um valor por cada consulta, a exemplo do é feito em consultórios e clínicas. Com as mudanças que estão acontecendo na América Latina, os profissionais começarão a ser analisados pelo desfecho clínico, já que “as operadoras de saúde conseguem monitorar todo o caminho percorrido pelo usuário e saber se ele foi bem atendido ou não”, alerta. “Em breve seremos mensurados e pagos pela competência e qualidade técnica do ato médico, e não somente por termos emitido uma guia de atendimento”, analisa.