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Telemedicina: como precificar?

Por:

Lívia Siqueira

- 19/08/2020

remuneração na telemedicina

O universo das finanças sempre desperta interesse e atenção, seja você um gestor de alguma empresa ou alguém interessado em controlar melhor os seus gastos. Afinal, estamos buscando a todo momento diminuir despesas e manter – ou até aumentar – os lucros. Saber administrar o seu dinheiro é um diferencial, que ajuda, principalmente, a enfrentar momentos de crise.

Na Medicina, em que muitos profissionais são donos de suas próprias clínicas ou consultórios, é fundamental compreender os impactos, positivos e negativos, desses investimentos. Mas como isso se insere no “novo normal” que vivemos hoje?

Com o avanço das tecnologias, o mundo vem imergindo, de maneira mais profunda a cada dia, em uma realidade virtual. Isso pode ser observado na Saúde por meio da Telemedicina. O encurtamento de distâncias, ocasionado pelo teleatendimento e por outras modalidades desse tipo de atendimento, permite que mais pessoas sejam beneficiadas com o cuidado médico.

Isso é parte de um futuro promissor, tanto no setor público quanto no privado, o que muda significativamente o rumo da profissão, sobretudo no que se refere ao tradicional: as consultas presenciais. Os tempos atuais, portanto, exigem que os médicos pensem cada vez menos no ambiente físico e muito mais no ambiente on-line.

Esse processo envolve uma série de fatores, como as plataformas que serão utilizadas para as teleconsultas, que deverão garantir a privacidade e a segurança das informações dos pacientes, os horários em que as consultas deverão ocorrer, como elas serão realizadas (WhatsApp, e-mail ou videoconferência) e, principalmente, qual será o custo da consulta e de que forma ela será cobrada.

Para ajudá-lo a entender melhor sobre esse assunto, reunimos duas partes importantes envolvidas com a remuneração na telemedicina: quem realiza e quem recebe pagamentos com o atendimento online.

Como cobrar por uma teleconsulta?

Desde 2019, a Telemedicina vem sendo pauta de diversas discussões na área da Saúde. O que começou com uma regulamentação polêmica do Conselho Federal de Medicina (CFM), acabou se concretizando com a pandemia de Covid-19: o Ministério da Saúde autorizou e o CFM, enfim, regulamentou que os médicos exercessem a profissão por meio de tal método.

A nova forma de atender pacientes traz inúmeras oportunidades, mas também gera uma série de dúvidas. A principal delas diz respeito à cobrança pelas teleconsultas. Implementar isso na rotina e na relação médico-paciente pode parecer algo nem tão complexo. Mas, especialmente para os pacientes, pode ser um verdadeiro desafio compreender a precificação do atendimento por Telemedicina.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Reinaldo Scheibe, o sistema de remuneração na telemedicina se assemelha ao atendimento presencial e pode apresentar variações entre médicos credenciados e os que atendem sem planos de saúde. O mais importante é ter em mente que as teleconsultas envolvem outros itens, que vão além do quesito financeiro.

“Provavelmente, o sistema de saúde utilizará mais de um modelo de pagamento. O que há de tendência é a manutenção de regras de relacionamento entre prestadores de serviços com operadoras de planos e que também deverá ser praticado dentro do próprio sistema público de saúde. Devem ser levados em consideração modelos baseados em valor, não apenas em produtividade médica (fee for service), aliando assim a ampliação do acesso à saúde a uma eficiência maior dos serviços prestados, entregando uma Medicina baseada em valor agregado de saúde ao paciente por meio da ferramenta de telessaúde”, explica.

De acordo com o Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020, estudo realizado pela Associação Paulista de Medicina (APM), com 2.258 médicos brasileiros, de 55 especialidades:

 65,19% dos entrevistados utilizam WhatsApp e outros aplicativos de mensagens para interagirem com seus pacientes fora das clínicas e hospitais;

 58,5% utilizam chamadas de voz, aplicativos de mensagens e e-mail para teleconsultas diariamente.

63,33% dos médicos não cobram pelas teleconsultas

 23,07% não sabem como fazer a cobrança

Procedimentos e orientações

Sobre as consultas realizadas pelo plano de saúde, Scheibe explica que não é necessário realizar nenhum procedimento antes da data acordada com o paciente. “Não há necessidade formal de comunicar a operadora de que será realizada uma teleconsulta. A obrigação do profissional de Saúde é de que a teleconsulta seja em um ambiente seguro para o paciente, utilizando uma plataforma apropriada, que acompanhe as regras que estão sendo abarcadas pela nova Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), realizando o devido registro em prontuário. Toda essa segurança é importante, caso seja necessário apresentar evidências em auditorias que venham a ser realizadas”, ressalta.

Em casos de experiência negativa por parte do profissional, o presidente da Abramge orienta: “Assim como nas consultas presenciais, o médico ou o beneficiário, descontentes com o serviço de telessaúde, devem procurar a operadora contratada e, em último caso, entrar em contato também com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”.

Reembolsos

Muitos pacientes optam por consultas particulares, mesmo sendo beneficiários de algum plano de saúde. Assim, é comum que eles peçam um reembolso depois. Como fica esse serviço com a Telemedicina? De acordo com Scheibe, isso depende de cada plano. “A política de reembolso pode variar de acordo com as regras aplicadas em cada uma das operadoras. O procedimento de reembolso é similar entre consultas presenciais e via telessaúde, dependendo de relatório médico e comprovante de pagamento por parte do beneficiário”, elucida.